Paloma Galvão
O terror social e feminista de Noites Brutais
Atualizado: 29 de nov. de 2022
[ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!!]

Uma moça viaja de carro a Detroit para realizar uma entrevista de emprego, tenta entrar em uma casa de Airbnb que ela alugou, mas descobre que o imóvel foi alugado para um rapaz também. Como estava de noite, chovendo e o bairro não é tão amigável, o rapaz diz que ela pode dormir lá, e no dia seguinte ela resolve a situação.
Para contextualizar, Detroit é uma cidade dos Estados Unidos que antigamente abrigava a indústria automobilística, porém, em 2013, acumulou dívidas e pediu falência, tendo uma vertiginosa queda no índice populacional (de 2 milhões para 713 mil habitantes). Isso explica o bairro abandonado onde a casa está localizada. Mas antigamente não era assim, como podemos acompanhar na cena que um homem sequestra uma vizinha e a prende em sua casa, no pacato bairro de outrora.
Voltando para a cena da casa, uma mulher sozinha com um estranho, mesclando cortesia e desconfiança, ao longo da noite, a conversa corre de forma hospitaleira, mas ao mesmo tempo, o roteiro nos deixa ansiosos, ficamos pensando no perigo que está por vir. O rapaz parece uma boa pessoa, oferece chá, diz que ela pode dormir no quarto enquanto ele dorme no sofá da sala. A arte imita a vida ao mostrar uma questão do nosso dia a dia, a vulnerabilidade a qual nós mulheres estamos expostas. Nos identificamos com a protagonista nesse terror psicológico que mostra uma situação real. Porém ao longo do filme se mostra ainda de terror, porém com monstros.

O filme acelera, depois desacelera a fim de introduzir um novo personagem, depois volta aos momentos de tensão. O novo personagem, que é proprietário do imóvel, precisa visitar a casa, analisá-la para vendê-la, já que precisa pagar um advogado que possa defendê-lo de uma acusação de abuso sexual. O proprietário não se importa quando descobre um quartinho sujo com uma câmera no porão, já a moça, quando descobriu o quartinho, percebeu o perigo, que o rapaz não percebe, pois pode se dar ao luxo de não ver perigo em todos os lugares, já que é um homem. Uma rua escura não é vista como perigosa para um homem da mesma forma que para uma mulher. Outra questão que envolve o proprietário da casa é a insistência em ter relações sexuais com uma moça, que o acusou de abuso sexual, enquanto para ele, não foi abuso, foi uma atitude de sedução.
Quando o monstro aparece, percebemos que é uma mulher agressiva e monstruosa, que os obriga a serem amamentados por ela. A metáfora aqui é sutil, quando a mulher se posiciona e mostra um comportamento mais agressivo, é taxada como louca, raivosa e monstruosa. Mas ela só é assim porque é um produto de violência que sofreu, ao ter seu corpo raptado e usado pelo sequestrador.

O filme retrata um risco social com o qual as mulheres precisam aprender a lidar desde jovens por simplesmente conviverem com homens. Por esse motivo, Noites brutais traz uma nova roupagem aos filmes de terror, não sendo um mero filme de monstros e sustos repentinos, e sim uma excelente crítica social sobre as influências nefastas do patriarcado sobre nossas vidas em uma sociedade machista.
*Noites brutais (Barbarian) – 2022, é um filme dirigido por Zach Cregger e está disponível na plataforma Star+.