Paloma Galvão
Intersexo, a letra I da sigla LGBTQIAP+
Atualizado: 16 de nov.
O que fazer quando o gênero do bebê é classificado como “indefinido”? Durante os exames de pré natal, uma das informações mais esperadas pela maioria dos pais é descobrir o sexo do bebê. Porém, nem todos os bebês nascem com a genitália somente masculina ou feminina. Algumas crianças se desenvolvem dentro da barriga da mãe de um jeito que acaba não fazendo essa distinção anatômica entre menino e menina.

A essa situação, damos o nome de INTERSEXUALIDADE. Porém, a sociedade se pauta em uma visão binária de gênero (onde só existem o masculino e o feminino) e não aceita muito bem essa ambiguidade, o que acaba ocasionando violações de direitos e corpos de quem nasce com essas características.
De acordo com a Intersex Human Rights Australia (2021): “Pessoas intersexo têm características sexuais inatas que não se enquadram nas normas médicas e sociais para corpos femininos ou masculinos e que criam riscos ou experiências de estigma, discriminação e dano”.

Quando se descobre a intersexualidade do nenê, tenta-se geralmente enquadrar a criança em padrões, caracterizando violências como intervenções cirúrgicas precoces realizadas durante a infância, não consentidas e nem emergenciais.
O relatório realizado em parceria entre as instituições interACT e Human Rights Watch, mostra que esses procedimentos violam direitos, tais como: autonomia, integridade corporal, saúde, informação, privacidade, autodenominação, liberdade de expressão, liberdade sexual e reprodutiva, direito de consentir e de estar livre de interferências e tortura.
E qual é o problema disso?
É tentar logo cedo encaixar essa criança que nasceu com características indefinidas de gênero, em um gênero que se acredita ser o correto, de acordo com os valores e contextos daquela família que gerou o bebê, ou para não gerar confusão no meio social. E, muitas vezes, esse bebê vai crescer e se desenvolver, e nem sempre vai corresponder ao gênero que lhe foi designado ao nascer. Por isso, essa decisão deveria ser tomada pelo próprio sujeito intersexo ao longo de seu desenvolvimento, visto que, estudos e relatos de pessoas intersexo apontam que uma intervenção cirúrgica não consentida pela própria pessoa, tem mostrado nem sempre ser bem-sucedida. Fora que essa pessoa acaba se sentindo mal por entender que tem “algo errado” com ela.
Sendo assim, o mês da Visibilidade Intersexo (outubro) é de suma importância para podermos debater de forma ampla e pública sobre integridade corporal, direito à autodeterminação, à informação, à memória, e a formulação de estratégias contra abusos médicos e psicológicos que violem esses direitos.
Fontes: Políticas públicas para população LGBTQIA+ [recurso eletrônico] / Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia, Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. — Brasília : CFP, 2O23.
Imagens: CNN Brasil e Wikipedia